quinta-feira, 22 de agosto de 2019

Felicidade Cinza

Eu era assim, mais viva, e a vida era assim, mais linda. Tinha cor, tinha som, onde foi parar? Onde fui parar nessa bagunça toda, neste cinza quieto?

Quando você é criança, você sonha em entrar na escola e aí pensa que lá será feliz, sem saber que já era feliz, sem se preocupar, apenas sendo. Entra na escola e pensa que quando chegar à faculdade vai ser feliz, e não vê que a felicidade estava sentada na carteira ao seu lado.

Quando vai para a faculdade, não quer ver a hora de terminar aqueles quatro ou cinco anos para ser a pessoa mais feliz do mundo, mas essa pessoa te deu adeus no dia da formatura. Era você o tempo todo, mas você nem notou.

Depois que isso acaba, você continua procurando onde ela está? E nem pensa onde quer chegar. Já cansou dessa busca, mas ainda não encontrou, ainda não faz o menor sentido... O pior é que você pode estar cometendo o mesmo erro de novo, mas só vai se dar conta quando isso acabar... Mas eu me pergunto, o que é isso? E me respondo... A vida. Quando acabar, não tem mais para onde ir, não tem o que buscar, e ela já terá escapado... Seja lá o que for que você procurava.

Ah, o tempo, esse aí, meu amigo, me irrita, me cansa. Ah, se desse para voltar e segurar ele, viver ele novamente. Mas ele se foi, e eu continuo aqui. Neste cinza quieto, nesta caixa de memórias velhas e deliciosas. Nesse mundo, nessa vida que para mim já não faz muito sentido, já não me dá tanta vontade. Sem ela, que, acredito eu, nunca existiu de verdade, ou foi embora tão rápido que sempre me fez falta.

quinta-feira, 18 de setembro de 2014

Passos no escuro


Leia ouvindo (Sam Smith - Stay With Me)

A vida poderia ser mais simples, as escolhas mais fáceis, mas a vida é inevitavelmente difícil. Nesse jogo, se algumas lágrimas não forem derramadas, se algumas noites de sono não ficarem esquecidas ante o turbilhão de pensamentos, se você não sentir a dureza da realidade da manhã que te espera, não vai entender como é doloroso e complicado ser humano.

Se todos os dias você acordar com o sol brilhante, não vai estar preparado para o frio congelante, aquele frio na barriga de quem vive no mundo real. As regras da vida são mais do que apenas viver; sentir medo parece ser fundamental. Talvez seja fundamental para que algumas manhãs de chuva continuem a molhar o solo de tal forma que dolorosas raízes cresçam e te façam mais forte.

São necessárias dúvidas incômodas, decisões desafiadoras e passos no escuro. É necessário, pelo menos uma vez, sentir um nó na garganta e o gosto salgado na boca. Certamente é irremediável sentir a solidão nos momentos em que o que mais se quer é um ombro amigo. A vida é um indeclinável conjunto de dissabores mesclados a manhãs agradáveis de sol.

As regras desse invencível jogo chamado vida são incontroláveis. Um dia, uma dor ou uma grande dúvida fatalmente vão chegar ao seu coração. Sua vitória depende de quem está contigo na noite chuvosa, quem vai estar contigo nas indeclináveis e necessárias grandes decisões da vida. Quem vai lhe acompanhar quando a velha e invencível verdade de que crescer dói chegar.

sábado, 14 de dezembro de 2013

O Sábado Após o Mestrado



"se chamares ao sábado deleitoso, e o santo dia do Senhor, digno de honra, e o honrares não seguindo os teus caminhos, nem pretendendo fazer a tua própria vontade, nem falares as tuas próprias palavras,Então te deleitarás no Senhor, e te farei cavalgar sobre as alturas da terra, e te sustentarei com a herança de teu pai Jacó; porque a boca do Senhor o disse". Isaías 58:13-14






    Desde que me lembro, sou Adventista do Sétimo Dia. Quando penso em sábados, lembro-me dos cultos de pôr do sol na sexta à noite, com cheiro de bolo e vinis dos Arautos do Rei. Em uma casa que, para mim, parecia grande, com um assoalho bonito e sem nenhum irmão menor. Com o passar dos anos, não sentia mais o cheiro de bolo, mas o gosto de cachorro-quente com batata palha e salada, pepino em conserva e maionese, em uma casa cheia de irmãos mais novos. Quando todos iam dormir, eu deitava no sofá da sala, desligava a luz, ligava o som e passava um bom tempo ali ouvindo músicas e mais músicas, enquanto cada um, em seu quarto, ouvia comigo.

    Depois, eu vim para o internato. Sexta à noite tinha gosto alternado: hora cachorro-quente vegetal, hora pão com tomate, alface e queijo. Hora bolo de brigadeiro com coco, hora bolo gelado. Ela tinha cheiro de chapinha e imagem de maquiagens e vestidos com salto alto. Tinha som de secador de cabelo e batidas na porta para empréstimos de uma roupa ou um sapato. Depois da igreja, ela parecia com amigos, abraços e fotos. Até aqueles dias, meus sábados eram maravilhosos, mas nunca havia parado para pensar muito em quão especial esse dia realmente é.

    Mas depois que entrei no mestrado, eu realmente entendi a bênção do sábado. Para quem já fez ou faz um mestrado, sabe o quanto ele pode ser cansativo. Você passa 24 horas do seu dia pensando no que deve ler ou no que precisa entregar, o quão atrasado está seu projeto, aquele artigo ou no seminário que tem que apresentar. Você fica frustrado, pois tem muita coisa para fazer e não tem tempo de corrigir aqueles cinco artigos que você queria mandar para o tal evento ou para uma revista que você não conseguiu pesquisar para saber se é a mais indicada.

    Para mim, sábado é realmente deleite. Em meio a essa correria toda, em meio a toda essa angústia constante por prazos e leituras, é onde eu paro e fico apenas com meu Deus. Os meus colegas de mestrado me perguntaram certa vez sobre como era essa história de sábado. Eu respondi que era um dia no qual a minha mente parava de pensar em coisas pessoais, sem e-mails, sem artigos, sem textos ou projetos, e tudo isso sem o menor peso na consciência. Não importa mais se eu preciso passar o sábado todo na igreja ajudando, no ensaio do coral ou em um parque, se tenho um projeto em um asilo ou coisa parecida. Depois do mestrado, meu sábado não é mais medido por cheiros e gostos, sons ou imagens. Meu sábado é completo, pois ele acontece em meu cérebro, esquecendo tudo que tenho, todos os problemas, esquecendo tudo o que sou. Voltando minha mente ao meu Criador que refrigera minha alma e restaura minha mente e meu corpo do cansaço da semana. Para que depois do pôr do sol eu volte e tenha forças para continuar honrando o nome dEle durante as atividades da semana.

    Depois que entrei no mestrado, o sábado tem sido uma bênção. Não atrasei nenhum trabalho ou prazo por guardá-lo e sem essa pausa não sei como estaria agora ao final deste ano. Agora entendo como o plano de Deus para o sábado é maravilhoso e que todo ser humano, criado por Ele, deveria experimentar essa maravilhosa bênção. Essas horas, realmente, benditas, santas e felizes.